TY - CONF
T1 - Constelações do Ativismo em rede: Livro de Atas do II Congresso Internacional de Net-Ativismo
AU - Loureiro, Luís M.
AU - Lima, Paulo Alexandre
AU - Mercedez López, M.
AU - Gonzaléz, M. Júlia
AU - Salgado Santamaría, Carmen
AU - Neto, Carlos Santos
AU - Magalhães, Marina
AU - Orsi, Sara
AU - Ribas, Luisa
AU - Cruz, Rui Vieira
AU - Cerqueira, Carla
AU - Santos, Anabela
AU - Rodrigues, Vanessa Ribeiro
AU - Matoso, Rui
AU - Favero, Rute Vera Maria
AU - Rodrigues, Catarina Sofia Lourenço
AU - Rajs, Maria Teresa Rojas
N1 - Organização: Marina Magalhães, Luis Miguel Loureiro, Elisabete Pinto da Costa e Maria Belém Ribeiro
PY - 2018
Y1 - 2018
N2 - A modernidade em fuga de si mesma é a modernidade eufemística. Não reclama explicação, recorte ou conceito porque deles está constantemente a escapar. A figura de estilo - que até pode ser apenas uma qualquer stylish figure da ofuscante passerelle moderna, reverberante da luz técnica que decreta na noite da Cidade o dia permanente -, é o seu modo de demonstração, um false friend que a persegue sem a alcançar.
De facto, é nesta fuga escorregadia e informe que, constantemente, a modernidade resvala: “a partir de cada lugar do mundo fugitivo preparam-se continuações de fugas” (Sloterdijk). Assim se revela o eufemismo como constante da experiência, como (meta) formação discursiva (Foucault) que diz a “época em que o contraditório se realiza” (Miranda) sem dizê-la: a auto-estrada veloz que evita o choque frontal, a hipocrisia estrutural (Bourdieu), a fuga para a frente da qual resulta “o paradoxo de uma radical ausência de futuro” (López-Petit). Com efeito, estaremos já tão siderados pelo espectáculo (Debord) da “era da dissimulação total” (Virilio), tão imersos no eufemismo que não nos percebemos afogueados numa atmosfera visualmente poluída que ofusca, contrai e distorce a visão do mundo.
Não será o facto de, nas mais recentes décadas, termos tido a tentação de pensar a modernidade como tardia (Giddens), líquida (Bauman), super (Augé, Ballandier), hiper (Lipovetsky) -, e toda esta conversa depois de lhe apormos o prefixo pós, sentença temporal da sua própria ultrapassagem (Lyotard) -, nada mais do que a renovada (e inócua?) demonstração do eufemismo em si mesmo?
Todas as estratégias de fuga surgem validadas pelos modos operativos de uma época que, simultaneamente, prescreve o moderno e se proscreve a si mesma. Radicam-se na intensa cinética da mobilização infinita (Sloterdijk) que toma de assalto a experiência e a devolve como mundo-código, interface imediata de ligação e desligação, mundo de trocas mercantis que capitaliza os valores como valor, esmagando um horizonte ético submetido ao aumento exponencial da velocidade de circulação da informação e à totalização estatística do individual e do social, produzindo o humano como moeda viva (Klossowski) - reproduzindo-o numericamente e codificando-o algoritmicamente para que a cadeia cinética nunca se quebre. Desativados como sujeitos políticos pela mobilização infinita, aceitamos com fraca resistência a inevitabilidade da acelerada mobilização (que aí devém como a única possível) para um agora sem promessa. Um agora eufemístico.
Que horizonte propriamente mobilizador restará, pois, à experiência, num mundo da vida acelerado, intensificado pela sua própria velocidade de libertação (Virilio), um mundo-rede que, ao mesmo tempo que totaliza e captura a experiência (Babo), “foge de si mesmo em si mesmo” (Sloterdijk)? Subsistirá na modernidade eufemística algum horizonte de possibilidade para modos não eufemísticos de mobilização?
AB - A modernidade em fuga de si mesma é a modernidade eufemística. Não reclama explicação, recorte ou conceito porque deles está constantemente a escapar. A figura de estilo - que até pode ser apenas uma qualquer stylish figure da ofuscante passerelle moderna, reverberante da luz técnica que decreta na noite da Cidade o dia permanente -, é o seu modo de demonstração, um false friend que a persegue sem a alcançar.
De facto, é nesta fuga escorregadia e informe que, constantemente, a modernidade resvala: “a partir de cada lugar do mundo fugitivo preparam-se continuações de fugas” (Sloterdijk). Assim se revela o eufemismo como constante da experiência, como (meta) formação discursiva (Foucault) que diz a “época em que o contraditório se realiza” (Miranda) sem dizê-la: a auto-estrada veloz que evita o choque frontal, a hipocrisia estrutural (Bourdieu), a fuga para a frente da qual resulta “o paradoxo de uma radical ausência de futuro” (López-Petit). Com efeito, estaremos já tão siderados pelo espectáculo (Debord) da “era da dissimulação total” (Virilio), tão imersos no eufemismo que não nos percebemos afogueados numa atmosfera visualmente poluída que ofusca, contrai e distorce a visão do mundo.
Não será o facto de, nas mais recentes décadas, termos tido a tentação de pensar a modernidade como tardia (Giddens), líquida (Bauman), super (Augé, Ballandier), hiper (Lipovetsky) -, e toda esta conversa depois de lhe apormos o prefixo pós, sentença temporal da sua própria ultrapassagem (Lyotard) -, nada mais do que a renovada (e inócua?) demonstração do eufemismo em si mesmo?
Todas as estratégias de fuga surgem validadas pelos modos operativos de uma época que, simultaneamente, prescreve o moderno e se proscreve a si mesma. Radicam-se na intensa cinética da mobilização infinita (Sloterdijk) que toma de assalto a experiência e a devolve como mundo-código, interface imediata de ligação e desligação, mundo de trocas mercantis que capitaliza os valores como valor, esmagando um horizonte ético submetido ao aumento exponencial da velocidade de circulação da informação e à totalização estatística do individual e do social, produzindo o humano como moeda viva (Klossowski) - reproduzindo-o numericamente e codificando-o algoritmicamente para que a cadeia cinética nunca se quebre. Desativados como sujeitos políticos pela mobilização infinita, aceitamos com fraca resistência a inevitabilidade da acelerada mobilização (que aí devém como a única possível) para um agora sem promessa. Um agora eufemístico.
Que horizonte propriamente mobilizador restará, pois, à experiência, num mundo da vida acelerado, intensificado pela sua própria velocidade de libertação (Virilio), um mundo-rede que, ao mesmo tempo que totaliza e captura a experiência (Babo), “foge de si mesmo em si mesmo” (Sloterdijk)? Subsistirá na modernidade eufemística algum horizonte de possibilidade para modos não eufemísticos de mobilização?
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UR - http://hdl.handle.net/10437/8798
M3 - Paper
T2 - Edições Universitárias Lusófonas
Y2 - 1 January 2023
ER -